A “MEDICINA FAST HEALTHY”

 

Dra Jacy M. Alves, Médica da Lapinha, especialista em Endocrinologia e Metabologia

A Medicina não é uma ciência exata – isso todos sabem. As verdades podem ser transitórias. Mas vemos cada vez mais pessoas, principalmente as mais abastadas, procurando uma “Medicina Fast Healthy”, onde no anseio de terem vitalidade, função sexual compatível com atores de filmes adultos, a juventude eterna, o não sofrimento a qualquer custo, engolem diariamente pílulas “mágicas” ou compostos injetáveis (muitas vezes pagam uma verdadeira fortuna por isso) que prometem ser a cura para a sua insatisfação com a vida e seus propósitos. Existe certo ou errado? Sinceramente acredito que cada pessoa escolhe seus caminhos e tem autonomia, portanto, talvez essa dicotomia entre certo ou errado não seja a maneira mais correta de expressão, sendo que existem apenas escolhas diferentes, mas uma vez definindo o rumo é preciso aceitar as possíveis consequências.

 

A busca eterna do ser humano pela longevidade é justa?

Claro, afinal a grande maioria das pessoas não pensa muito sobre a finitude da vida, apesar de todos saberem da sua existência. Durante a era renascentista essa busca se limitava ao desejo de forma milagrosas de rejuvenescimento, como o banho na fonte da juventude. Houve uma guinada científica em 1889 com a publicação das auto-experiências de Brown-Séquart com extrato de testículos de animais, o que aparentemente melhorou sua vitalidade, força física e cognição. Este extrato, comercializado como o “Elixir da Vida”, foi vendido por décadas na Europa e América do Norte. No entanto, a replicação dos experimentos de Brown-Séquart demonstrou que tal extrato apresentava apenas concentrações homeopáticas de testosterona, insuficientes para exercer qualquer efeito biológico. Assim, o nascimento da Andrologia começou com um efeito placebo. Nas últimas décadas, a busca por compostos que possam a levar ao rejuvenescimento ganhou força, com a testosterona em primeiro plano. O diagnóstico de hipogonadismo masculino requer a presença de sintomas clínicos como libido baixa, disfunção erétil e fadiga, além da dosagem de testosterona realizada no mínimo em duas ocasiões no período da manhã, na ausência de doenças agudas ou graves. Embora as diretrizes de prática clínica das principais Sociedades Médicas do mundo defendam o tratamento com testosterona em homens com hipogonadismo orgânico, a testosterona continua a ser comercializada com uma droga maravilhosa com efeitos rejuvenescedores na função sexual, vitalidade e uma séries de outros supostos benefícios, não comprovados. Além disso, a epidemia crescente de obesidade, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, condições que sabidamente podem associadas a menores níveis de testosterona, trouxe mais uma vez esse hormônio para o palco de discussões e centro de atenção. Embora o número de prescrições de testosterona tenha aumentado de forma avassaladora nas últimas duas décadas, estudos clínicos randomizados cuidadosamente conduzidos sugerem benefícios apenas modestos com o tratamento e em casos de hipogonadismo funcional, como muitas vezes ocorre na obesidade, diabetes tipo 2, essa alteração pode ser revertida tratando as doenças de base e com a mudança de estilo de vida, sem necessidade da reposição de testosterona, numa boa parte dos casos. Em relação à prescrição da testosterona, quando necessária, nos casos de hipogonadismo orgânico, permanecem as preocupações com a segurança, principalmente em homens idosos.

 

Nas mulheres, o abuso do uso de testosterona é ainda mais preocupante…

A situação onde esse hormônio poderia ser indicado seria o Transtorno do Interesse/Excitação Sexual Feminino. E vemos hoje a prescrição desse hormônio sem critérios e muitas vezes sem nenhuma indicação, para fins puramente estéticos, para aumentar a libido ou como uma “nova” forma de terapia hormonal da menopausa, em que muitas vezes não há sequer o uso adequado do estrogênio e progesterona (progesterona para mulheres que possuem útero, pois nas mulheres submetidas à histerectomia o uso de estrogênio não precisa ser acompanhado pelo uso de progesterona). A sexualidade feminina é complexa e não somente relacionada a hormônios como a testosterona. Fatores psicossociais como cultura, crenças religiosas, autoestima, depressão, traumas sexuais como abuso, tipo de relacionamento afetivo, estilo de vida, estresse, doenças e o uso de medicamentos influenciam a sexualidade feminina. O diagnóstico de perda do interesse nas relações sexuais e/ou falta de excitação se baseia na Classificação do DSM 5 e requer critérios bem específicos e precisam estar presentes no mínimo por 6 meses e devem causar angústia à paciente. O diagnóstico desta síndrome, o Transtorno do Interesse/ Excitação Sexual Femininoé realizado com base em critérios exclusivamente clínicos. A dosagem de testosterona não está indicada para o diagnóstico do Transtorno do Interesse/ Excitação Sexual Feminino, nem para avaliação de baixa função ovariana ou adrenal porque o método de dosagem utilizado mundialmente só permite discriminar o excesso de produção de testosterona, como para o diagnóstico de tumores e/ou outras doenças que levam a acne, hirsutismo e virilização. Testosterona total e sobretudo livre só devem ser dosadas na avaliação de hiperandrogenismo. Vale lembrar que no Brasil não existe testosterona para mulher que seja aprovada por órgãos de vigilância sanitária (ANVISA). Mundialmente, não é recomendado o uso de formulações masculinas para mulheres. O uso de Testosterona por mulheres, sem indicação e com medicamentos inadequados, pode levar a efeitos a curto e a longo prazo, dose-dependentes como acne, excesso de pelos, queda de cabelo, aumento do risco cardiovascular, engrossamento da voz, aumento do clitóris, além de dependência psicológica como depressão após a retirada, transtorno da imagem corporal (dismorfofobia, vigorexia) e transtornos alimentares (ortorexia). Essa é a informação que temos até hoje, com maior robustez de evidências, mas claro, cada um continua tendo o livre arbítrio para escolher os seus caminhos.

 

Em homens, a testosterona também não deve ser usada para libido baixa e depressão sem o diagnóstico de hipogonadismo.

O uso de testosterona para ganho de massa muscular é considerado doping em atletas profissionais e ilegal em amadores. Pode levar a efeitos adversos graves e irreversíveis como: aumento do coração e morte súbita, infertilidade, ginecomastia, problemas de fígado, policitemia e risco aumentado de trombose, edema, retenção urinária para pessoas com hipertrofia prostática, distúrbio do sono, supressão transitória ou definitiva da função testicular com parada da produção de testosterona endógena e necessidade de reposição de testosterona em longo prazo.

Você quer ter uma vida com maior bem-estar, sem limitações e mais saudável? O básico segue funcionando: alimentar-se de maneira saudável, praticar exercício físico regularmente, prezar pelo sono de qualidade, gerenciar o estresse, manter relacionamentos/conexões sociais saudáveis, não fumar e consumir bebida alcoólica com moderação, além de praticar a espiritualidade, de alguma forma, fazendo o bem.

 

SÓ PARA QUEM QUER VIVER MAIS E MELHOR

 

Marcielle Pereira, Nutricionista da Lapinha e Dr Daniel S. F. Boarim, Diretor Médico da Lapinha

Juntamos aqui, em poucas páginas, dicas das melhores sociedades médicas internacionais para uma vida mais longa e saudável. Também muito do que dizemos aqui, sobre os três níveis de autocuidado, vem do saber Lapinha, acumulado ao longo de mais de meio século. Saboreie, internalize e aplique!

 

CUIDADO DA ALIMENTAÇÃO

– Procure incluir boa variedade de alimentos na sua rotina. Ter sempre cinco cores diferentes no prato garante melhor nutrição e deixa a alimentação menos monótona.

– Cuide com os excessos, não tenha mais do que duas refeições ‘livres’ durante a semana.

-Os okinawenses (Japão) têm o costume dizer Hara hachi bu me (腹八分目/はらはちぶんめ), antes das refeições, um ensino confucionista que os lembra de não comer mais que 80%. Na prática, significa sempre sair da mesa com “um pouco de fome”, mas não faminto. Para mais detalhes leia nossa interessante matéria sobre as blue zones: https://bibliotecadeconhecimento.lapinha.com.br/segredos-dos-povos-mais-longevos-do-mundo/

– Coma devagar e mastigue muito bem cada bocado. Leve pelo menos 20 a 30 minutos para fazer as refeições irá garantir mais saciedade e menos desconforto digestivo.

– Mantenha uma boa hidratação: o ideal é fazer um cálculo de 30 a 35 ml x o peso corporal, e distribuir essa ingestão ao longo do dia, tomando menos líquido à noite. Quando o clima é quente e seco, a ingesta de água merece ainda mais atenção.

– Faça um planejamento das refeições: organize o menu da semana, a lista de compras e até elabore algumas preparações saudáveis e de rápido preparo para manter no freezer.  Isso irá facilitar sua rotina, diminuindo as chances de ‘sair do planejado’.

– Evite dietas muito restritas, exageradamente hipocalóricas! Procure fazer um acompanhamento nutricional sério para garantir o equilíbrio das suas refeições. Comer muito pouco por muito tempo, além de desnutrir, pode despertar o monstro da compulsão, tendo o efeito exatamente oposto – leva ao reganho de peso e maior engorda. Por isso, siga a orientação de uma nutricionista de orientação sensata. A Lapinha oferece um serviço de qualidade nessa área.

– A proteína é essencial à manutenção da massa muscular e equilíbrio nutricional. Porém, é crítico esclarecer que há muitas dietas da moda “para emagrecer” à base de proteínas, também chamadas “low carb”. Cuidado com essas dietas, que, embora levem a alguma perda de peso, são altamente pró-inflamatórias, estragando a microbiota do intestino e mostrando-se totalmente inadequadas! Não há base científica para recomendar tais dietas com elevados teores de proteína, muito acima do recomendado e necessário.  O equilíbrio é a chave da saúde. Para mais detalhes leia https://bibliotecadeconhecimento.lapinha.com.br/dieta-da-proteina-ajuda-a-emagrecer-ou-a-inflamar/

– Escolha “carboidratos do bem” para consumir no seu dia-a-dia: raízes como batata-doce, aipim, inhame, cereais integrais como aveia, arroz integral, quinoa, frutas e legumes – estas são as melhores fontes de carboidrato, proporcionando saciedade, energia e sensação de bem-estar. Consumir carboidratos refinados como guloseimas, refrigerantes e farinhas brancas fará com que aflore o desejo por açúcar e doces, roubando sua disposição e levando a ganho de peso.

– Se apesar da rotina saudável você comete um deslize ocasional, isso não significa que você ‘colocou tudo a perder’. Siga em frente com as melhores escolhas, na próxima refeição ou no dia seguinte.

– Suplementos podem ser úteis quando há deficiências e necessidades detectáveis, clínica e/ou laboratorialmente. Porém, há hoje uma tendência, pautada às vezes por modismo e mercenarismo, de prescrever suplementos demais, o que está longe do saudável. Infelizmente, essas práticas nada recomendáveis se ocultam às vezes sob as propostas da “medicina do estilo de vida”, “medicina integrativa” e até “nutrologia”, na verdade boas em sua essência.

 

CUIDADO DO CORPO

– Equilibre exercícios aeróbicos, musculação e alongamento. Assim como na dieta é necessário balanceamento, um exercício desequilibrado pode favorecer a ocorrência de lesões e não garante o melhor resultado.

– Busque sempre orientação e liberação médica para as atividades físicas, especialmente se você tem alguma condição patológica de fundo cardio-respiratório, metabólico ou ortopédico.

– Procure também uma orientação de um professor de educação física, e caso haja alguma limitação ortopédica, inclua um fisioterapeuta entre seus orientadores.

– Em geral se recomendam 30 minutos de exercícios planejados e orientados 5x por semana, e para emagrecer uma hora 5x por semana. Mas, veja bem, se você ainda não conseguiu atingir essa meta cientificamente estabelecida, saiba que sair do sedentarismo e começar com 2, 3 ou 4x por semana, desde que você tenha conte com boa orientação, já é um bom começo! Procure evoluir, avançar!

– Cuide do seu sono, mantenha uma rotina mais tranquila no final do dia e procure jantar algo leve, preferencialmente três horas antes de dormir. Isso garantirá um sono mais tranquilo e restaurador.

– O sono, aliás, é o mais importante regulador do biorritmo e participa da homeostase do corpo e da mente. Sono ruim aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e até obesidade!

– Não postergue seu check up médico! Siga a periodicidade recomendada por seu médico e não negligencie os exames preventivos, como mamografia, US mamário, exames de próstata, screening laboratorial, etc.

– Preste atenção na saúde da sua coluna vertebral! Sente-se e caminhe ereto, corrija sua postura.

– Manter o peso saudável, com boa composição corporal (massa magra x massa gorda) é, por unanimidade, essencial à qualidade de vida. Emagrecer requer, todo mundo sabe, atenção plena ao binômio alimentação-exercícios. Mas há um terceiro fator, sem o qual não se consegue sustentar qualquer avanço ou conquista: estamos falando de estratégias comportamentais, que implicam uma virada pra valer na “chavinha mental”. Conheça nosso programa “Emagreça e continue magro”, baseado no consagrado protocolo do Intensive Lifestyle Intervention. Idealmente, entre contato conosco semanas ou meses antes de vir, para já ir se preparando! O resultado é bem melhor assim, e vai requerer também acompanhamento de longo prazo!

– A abstinência de vícios, drogas ilícitas, álcool e fumo, é reconhecidamente condição para desfrutar boa qualidade de vida. Embora a Lapinha NÃO trate dependências químicas como drogadição nem alcoolismo, tratamos sim o tabagismo, DESDE que não haja outras dependências sobrepostas. Importante entrar em contato conosco pelo menos um mês antes, para fazer uma consulta com o médico responsável pelo programa e começar o tratamento antes de vir – esse é o protocolo baseado no melhor resultado! Entender, nesses casos, que você precisa de ajuda, é o primeiro passo rumo à superação!

– O jejum intermitente é uma prática saudável para o corpo e a mente, desde que adotado de forma sensata. Cuidado! As mídias vêm vandalizando esse assunto. Para informações sérias, com embasamento científico leia: https://bibliotecadeconhecimento.lapinha.com.br/jejum-intermitente-beneficios-e-insanidades/

 

CUIDADO DA MENTE

– Vivemos o tempo todo sob intenso bombardeio de estressores. A prevalência atual de transtornos emocionais e mentais é algo sem precedentes na história médica. Pecamos por dedicar pouco tempo à saúde, ao descanso mental e ao equilíbrio espiritual. Aliás, a maioria de nós só se preocupa com saúde quando cai doente! Aqui mora uma das principais causas de sofrimento tanto do corpo como da mente, que funcionam como uma unidade inseparável!

– O que pode nos ajudar a lidar com tantos estressores e alcançar equilíbrio emocional? Tudo o que listamos anteriormente, dentro do cuidado da alimentação e do corpo, são meios de fortalecer a unidade corpo-mente, nossa resistência e resiliência. Exercícios, alimentação saudável, e práticas de gestão do estresse merecem o primeiro lugar na nossa agenda. Lembre-se do óbvio negligenciado: Sem saúde, sem os cuidados que a saúde pede, nossa produtividade e alegria de viver caem drasticamente. Não compensa colocar tudo isso em segundo ou terceiro plano!

– Respirar fisiologicamente, separando pelo menos dois momentos no dia para praticar exercícios respiratórios, é uma das dicas mais simples e eficazes para enfrentamento do estresse! A respiração correta é essencial à boa oxigenação e nutrição do corpo e da mente. Ajuda a conter a ansiedade, mantendo-nos mais calmos, além de promover boa digestão e homeostase metabólica.

– Vale reforçar aqui o papel de destaque do sono na manutenção e recuperação da saúde integral! A maioria das pessoas dorme mal por questões perfeitamente corrigíveis. A higiene do sono é, nesse caso, um dos primeiros passos para as pazes com a saúde. A Lapinha oferece um programa muito bem desenhado, denominado “BEM DORMIR LAPINHA”. Entre em contato conosco pelo menos um mês antes de vir, para você receber orientações e, ao ingressar no programa, ser atendido por nossa médica especialista em medicina do sono e já começar o tratamento. Fazendo assim, os resultados são bem melhores. É um tratamento de longo prazo!

– Religiosidade e fé no Ser Superior, funcionam comprovadamente como poderosas blindagens anti-estresse. Pesquisas revelam que pessoas religiosas vivem mais e melhor.

– Práticas regulares de gestão do estresse, além da respiração, como massoterapia e acupuntura, podem fazer a diferença.

– Não hesite – e isso é muitas vezes indispensável – em procurar ajuda de um psicoterapeuta e de um psiquiatra, profissionais da saúde mental.

A MAYR KUR E O JEJUM INTERMITENTE

 

Dr. Daniel S. F. Boarim, MD

Lapinha SPA, Lapa, PR Brazil

 

Quando os seres humanos viviam em ambientes em que a comida era relativamente escassa, seu organismo aperfeiçoou mecanismos metabólicos que deveriam funcionar com o máximo de eficiência. Por isso desenvolvemos um genótipo poupador. Poupador e estocador de energia para os tempos de escassez, sazonais nos tempos primitivos.

Hoje, no mundo industrializado, há comida demais o tempo todo, com excedente de calorias. Por isso nosso ambiente tornou-se intensamente obesogênico. Pior que isso, o padrão alimentar ocidental é, reconhecidamente, um caldo de cultura ideal para a quase totalidade das doenças crônicas.

Em geral comemos demais, em várias refeições. Comemos errado e com frequência exagerada. Virou até tradição ensinar que precisamos comer de três em três horas, até 6 refeições ao dia, ensinamento que, embora tenha se tornado tradicional até nos meios acadêmicos, carece de base científica!

A MAYR PREVENT preconiza um período de repouso metabólico caracterizado por jejum assistido sem desnutrição, catarse intestinal monitorada e reeducação do estilo de vida, o que na prática clínica vem contribuindo de modo animador para mudanças sustentáveis, como reordenamento alimentar, que envolve aspectos quantitativos, qualitativos, modais e fracionais. Em outras palavras, a MAYR PREVENT vem contribuindo para melhora geral da saúde e prevenção de doenças que envolvem fatores modificáveis do estilo de vida. E isso representa a maior parte das doenças que hoje superlotam nossos hospitais. Certamente, um benefício considerável para a nossa qualidade de vida, e que mereceria mais atenção dos pesquisadores e médicos.

Outro aspecto a pontuar aqui é a relação entre o jejum fisiológico cíclico e a microbiota do intestino, cujo equilíbrio previne a inflamação crônica de baixo grau, fortemente associada às doenças crônicas. Essa é, sem dúvida, mais um componente dessa complexa equação que ajuda a explicar, com sólida base científica, os notáveis benefícios clínicos obtidos pela MAYR PREVENT. Em outra publicação, pretendemos abordar especificamente o badalado tema da microbiota do intestino (Matias Perez D. et al, 2022).

 

O jejum intermitente desafia o metabolismo e aumenta nossa resistência a doenças

Quando mudamos nosso hábito, diminuímos as calorias e adotamos um programa sensato de jejum intermitente fisiológico, sem desnutrição, que ajuda a regular os ciclos alimentação-jejum e sono-vigília, colocando nosso metabolismo de novo “nos eixos”, finalmente desafiando mente e corpo a voltarem ao peso normal e à saúde ideal. E isso é feito com louvor pela MAYR PREVENT.

Explicando melhor, todos os organismos, inclusive o nosso, estão programados para desenvolver meios de autopreservação, tanto mentais como corporais, que funcionem cada vez com mais eficiência. E o jejum é um desafio que, de acordo com as pesquisas, parece aperfeiçoar esses meios de autopreservação.

Podemos afirmar hoje, a partir de numerosos estudos, que o jejum intermintente desafia o cérebro e os vários sistemas de controle nutroneurometabólicos, que respondem adaptativamente às condições “adversas” (o nome técnico disso é HORMESE), melhorando as habilidades do indivíduo e otimizando o desempenho de suas funções, o que aumenta a resiliência ao estresse e às doenças (Mattson et al., 2017).

 

MAYR PREVENT – um programa assistido de jejum intermitente

A MAYR PREVENT é, sem dúvida, um tipo de jejum intermitente, pois não só diminui as calorias totais por um período de 2 a 3 semanas, mas também as variedades de alimento nas refeições, e diminui o período de alimentação diurna, com jejum entre a primeira e última refeção que pode ir de 14 a 16 horas, conforme o plano alimentar. E é exatamente essa a práxis do jejum intermitente (Mattson et al., 2017).

Por falar em 3 semanas de jejum intermitente, estudos revelaram que esse período intensivo de três a quatro semanas parecia adequado, em modelos experimentais, para otimizar os marcadores metabólicos de saúde, ao passo que períodos muito longos podem ser deletérios (Cerqueira et al., 2011). Interessantemente, o Dr Mayr recomendava a princípio períodos de 3 semanas de dieta, que hoje sabemos ser adequado inclusive para propiciar mudanças sustentáveis no microbioma intestinal.

Estudos recentes também pontuam que, a mudança do microbioma intestinal é uma das principais bases do benefício sistêmico do jejum intermitente em muitas doenças, como a esclerose múltipla (Cignarella F et al, 2018).

A moral da história é que, prolongar o jejum por tempo excessivo, ou não dar tempo suficiente para a natureza agir através das suas vias de sinalização metabólica, resultam em resultados falhos. E excesso de restrição para pessoas idosas e debilitadas, pode gerar desnutrição e sintomas de má adaptação, além de favorecer perda de massa muscular.

Quando, porém, adequadamente indicado e conduzido, o jejum intermitente conta com numerosos estudos científicos que apóiam seus benefícios.

A Mayr Kur é, documentadamente, uma das modalidades de jejum intermitente mais praticadas e aprimoradas na atualidade, contando com numerosas clínicas médicas na Europa e outras partes do mundo (no Brasil, a Lapinha) que o aplicam com criterioso acompanhamento médico, e individualização de conduta.

 

Quais os benefícios do jejum intermitente?

Nos estudos científicos, os diferentes tipos de jejum intermitente apresentaram efeitos benéficos sobre vários indicadores de saúde em animais experimentais, e também em humanos (Anton SD et al., 2018).

Foram documentados benefícios significativos em doenças relacionadas com a idade, como diabetes, males cardiovasculares, hipertensão arterial, Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, obesidade, entre muitas outras patologias (Mattson et al, 2017, Jeong JH et al 2018, Mc Carty MF, 2015).

Entre os indicadores fisiológicos de saúde que apresentam nítida melhora como resultado do jejum intermitente, tanto em modelos  animais como em humanos, podemos destacar:

  1. Os níveis de insulina e leptina diminuem, e isso acontece paralelamente ao aumento da sensibilidade a ambos os hormônios;
  2. A gordura corporal diminui;
  3. Os níveis de cetona aumentam;
  4. A freqüência cardíaca e a pressão arterial de repouso diminuem, e a variabilidade da freqüência cardíaca aumenta (resultante do aumento do tonus parassimpático), que é um indicador de saúde cardiovascular;
  5. A inflamação sistêmica diminui, provavelmente via mudança da microbiota intestinal para um padrão mais simbiôntico;
  6. O cérebro e o coração ficam mais resistentes ao estresse (por exemplo, verificou-se uma redução do dano tecidual e uma melhoria do resultado funcional após acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio);
  7. Maior resistência ao diabetes;
  8. O início e a progressão da disfunção e degeneração neuronal em modelos animais são retardados, o que melhora o prognóstico das doenças de Alzheimer, Parkinson e Huntington nesses modelos experimentais.

Hoje há vários estudos estão começando a desvendar os mecanismos celulares e moleculares pelos quais o jejum aumenta a resistência das células, tecidos e órgãos ao estresse e às doenças comuns, associadas ao envelhecimento e a estilos de vida sedentários e exagerados.

Os resultados de estudos em humanos, nos quais vários indicadores de saúde são medidos no início e após o jejum, sugerem que o jejum intermitente pode proteger contra a síndrome metabólica e os vários distúrbios associados, incluindo diabetes e doença cardiovascular.

Estudos sobre o pacientes com câncer (Safdie et al., 2009) e esclerose múltipla (Choi et al., 2016) produziram resultados muito promissores. Tudo isso constitui forte razão para avançar com testes clínicos mais amplos em pacientes com desordens relacionadas a cronicidade e à obesidade.

 

Qual é o mecanismo pelo qual o jejum intermitente melhora a saúde e combate a doença?

Os estudos científicos estão revelando mais e mais rotas ativadas e/ou inibidas pelo jejum, que ajudam a entender o porquê dos benefícios. De modo simplificado, são ativadas numerosas vias de sinalização adaptativas de resposta ao estresse celular, que levam a três resultados finais:

  1. Aumentam a capacidade mitocondrial de produzir energia,
  2. Reparam o DNA e
  3. Promovem a autofagia (que leva à renovação da célula, em vez de sua morte por apoptose).

O jejum intermitente também promove a regeneração de células tronco e produz efeitos metabólicos de longa duração, além de notáveis ações neuroprotetoras (Mattson et al, 2018).

Nossos sistemas metabólico, endócrino e nervoso apresentam altos níveis de desempenho físico e mental quando no estado de jejum assistido, em condições adequadas. Estudos de animais de laboratório ajudaram a explicar os mecanismos celulares e moleculares pelos quais os indivíduos respondem ao jejum de maneiras que podem aumentar sua aptidão geral, sua resistência a lesões e a uma grande variedade de doenças (Longo and Matson, 2014).

A maioria dos ensaios clínicos randomizados controlados em humanos envolveram uma restrição de energia de 60 e 75% (500-800 kcal) em dias alternados ou em dois dias consecutivos por semana. Embora os resultados possam diferir quantitativamente, dependendo do padrão de jejum intermitente, todos os regimes resultaram em alterações metabólicas semelhantes (Johnson et al., 2007; Wan et al., 2010), a saber:

  1. Manutenção dos níveis de glicose no sangue na faixa normal baixa;
  2. Depleção ou redução de estoques de glicogênio;
  3. Mobilização de ácidos graxos e geração de cetonas (fatore de neuroproteção);
  4. Redução da leptina circulante (e isso previne o câncer);
  5. Muitas vezes, elevação dos níveis de adiponectina (“hormônio do bem” produzido quando o tecido adiposo está nas proporções adequadas);
  6. Elevação do BDNF ou fator neurotrópico derivado do cérebro (fator de proteção e regeneração do sistema nervoso).

Alterações comportamentais que ocorrem durante o período de jejum incluem maior alerta ou excitação, e aumento da acuidade mental (Fond et al., 2013).Tanto a mudança metabólica para a utilização de cetona, quanto respostas do cérebro e do sistema nervoso autônomo à privação, desempenham papéis importantes na promoção da saúde e resistência à doença.

Em ratos hiperfágicos (“gulosos”) e obesos, o jejum intermitente inverte a tendência de resistência à insulina, reduzindo os níveis circulantes de insulina e leptina (Duan et al., 2003a). Isso é ótimo na prevenção das complicações da obesidade, principalmente o diabetes e o câncer.

 

Relação entre câncer e obesidade, e o papel preventivo do jejum intermitente

O controle do peso reduz o risco de incidência de treze tipos de câncer que têm sido associados à obesidade (Renehan et al., 2008, WCRF, 2014; Goodwin et al., 2015). Evidências de que o jejum intermitente pode reduzir o risco de câncer vêm de seus efeitos sobre vários biomarcadores de risco de câncer, como insulina, citocinas, moléculas relacionadas à inflamação, leptina e adiponectina, relacionados à adiposidade e ingestão excessiva de energia (Hursting et al., 2012; Wei et al., 2016).

Reduções em um hormônio que estimula o crescimento celular chamado IGF-1 (redução de 15%) foram reportadas em indivíduos normais e com sobrepeso que tinham seguido o jejum intermitente de uma dieta baixa em proteínas e baixa energia, por tempo limitado (0,25 g proteína/kg peso, 34-54% do normal ingestão de energia) (Brandhorst et al., 2015). Os efeitos do jejum intermitente em relação à resistência à insulina e risco de diabetes podem ter um importante papel na proteção contra cânceres relacionados à obesidade (Goodwin et al., 2015).

A leptina, produzida pelo tecido adiposo, está relacionada à progressão do câncer. A principal função da leptina é regular o balanço de energia. No entanto, indivíduos obesos rotineiramente desenvolvem resistência à leptina, resultando no acúmulo desse hormônio. Portanto, os níveis de leptina são muitas vezes cronicamente elevados na obesidade humana. Níveis elevados de leptina estão relacionados a maior incidência, maior progressão e pior prognóstico de vários cânceres humanos.

Além do tecido adiposo, as células cancerosas também podem secretar leptina e superexpressar os receptores de leptina. Sabe-se que a leptina atua como um factor mitogênico (faz o câncer crescer), inflamatório e pró-angiogênico (aumenta a nutrição do tumor), que induz a proliferação de células cancerígenas e a angiogênese tumoral. Além disso, a sinalização da leptina induz as células-tronco cancerígenas, que estão envolvidas na recorrência do câncer e na resistência aos medicamentos (LIpsey CC et al, 2016).

 

Conclusão

Estamos vivenciando um momento memorável de grandes e novas revelações científicas sobre velhos axiomas médicos. O jejum como instrumento de cura é tão antigo como a humanidade.

Mas a medicina contemporânea preferiu por muito tempo ignorar esse marco da sabedoria milenar, até que uma avalanche de estudos científicos – especialmente após o prêmio nobel de medicina Dr Yoshinuri Oshumi, – reuniram evidências contundentes sobre a validade desse método já testado e aprovado desde tempos imemoriais. Aqui só apresento uma amostra muito pequena de trabalhos científicos sobre o assunto, que hoje se contabilizam às centenas.

A MAYR PREVENT, como técnica de jejum assistido e individualizado, atende bem aos atuais reclamos da prática médica, oportunizando, pela primeira vez em séculos, no universo da cura pelo jejum, um salutar diálogo entre o saber ancestral e a academia contemporânea.

Por que não começarmos a introduzir, com bom senso e segurança, a cultura do jejum intermitente em nosso plano pessoal de saúde, com vistas à longevidade e qualidade de vida? Desde que aplicado com sensatez, equilíbrio e não haja contra-indicação, não há motivo para duvidar dos benefícios que podemos auferir.

A Lapinha,  que há q 50 anos trabalha com várias modalidades de jejum, com ênfase à MAYR PREVENT, reúne uma casuística cada vez mais robusta de centenas de pacientes que experimentaram e continuam experimentando de modo inequívoco os benefícios que a ciência hoje atribui ao jejum intermitente e á melhora da microbiota do intestino.

 

 

Referências científicas

Anton SDMoehl KDonahoo WTMarosi KLee SAMainous AG 3rdLeeuwenburgh CMattson MP. Flipping the Metabolic Switch: Understanding and Applying the Health Benefits of Fasting. Obesity (Silver Spring). 2018 Feb;26(2):254-268.

 

Brandhorst, S., Choi, I.Y., Wei, M., Cheng, C.W., Sedrakyan, S., Navarrete, G., Dubeau,L., Yap, L.P., Park, R., Vinciguerra, M., Di Biase, S., Mirzaei, H., Mirisola, M.G.,Childress, P., Ji, L., Groshen, S., Penna, F., Odetti, P., Perin, L., Conti, P.S., Ikeno, Y.,Kennedy, B.K., Cohen, P., Morgan, T.E., Dorff, T.B., Longo, V.D., 2015. A periodic diet that mimics fasting promotes multi-system regeneration, enhancedcognitive performance, and healthspan. Cell Metab. 22, 86–99.

 

Cerqueira, F.M., da Cunha, F.M., Caldeira da Silva, C.C., Chausse, B., Romano, R.L.,Garcia, C.C., Colepicolo, P., Medeiros, M.H., Kowaltowski, A.J. Long-termintermittent feeding, but not caloric restriction, leads to redox imbalance,insulin receptor nitration, and glucose intolerance. Free Radic. Biol. Med. 51,1454–1460, 2011.

 

Choi, I.Y., Piccio, L., Childress, P., Bollman, B., Ghosh, A., Brandhorst, S., Suarez, J.,Michalsen, A., Cross, A.H., Morgan, T.E., Wei, M., Paul, F., Bock, M., Longo, V.D.,2016. A diet mimicking fasting promotes regeneration and reducesautoimmunity and multiple sclerosis symptoms. Cell Rep. 15, 2136–2146.

Cignarella FCantoni CGhezzi LSalter ADorsett YChen LPhillips DWeinstock GMFontana LCross AHZhou YPiccio L. Intermittent Fasting Confers Protection in CNS Autoimmunity by Altering the Gut Microbiota. Cell Metab. 2018 Jun 5;27(6):1222-1235.e6.

Duan, W., Guo, Z., Jiang, H., Ware, M., Mattson, M.P., 2003a. Reversal of behavioraland metabolic abnormalities, and insulin resistance syndrome, by dietaryrestriction in mice deficient in brain-derived neurotrophic factor. Endocrinology 144, 2446–2453.

Fond, G., Macgregor, A., Leboyer, M., Michalsen, A., 2013. Fasting in mooddisorders: neurobiology and effectiveness. A review of the literature. Psychiatry Res. 209, 253–258.

Goodwin, P.J., Ambrosone, C.B., Hong, C.C., 2015. Modifiable lifestyle factors andbreast cancer outcomes: current controversies and research recommendations.

Hursting, S.D., DiGiovanni, J., Dannenberg, A.J., Azrad, M., Leroith, D.,Demark-Wahnefried, W., et al., 2012. Obesity, energy balance: and cancer:new opportunities for prevention. Cancer Prev. Res. (Phila) 5, 1260–1272.

Jeong JH, Yu KS, Bak DH, Lee JH, Lee NS, Jeong YG, Kim DK, Kim JJ, Han SY. Intermittent fasting is neuroprotective in focal cerebral ischemia by minimizing autophagic flux disturbance and inhibiting apoptosis.Exp Ther Med. 2016 Nov;12(5):3021-3028.

 

Johnson, J.B., Summer, W., Cutler, R.G., Martin, B., Hyun, D.H., Dixit, V.D., Pearson,M., Nassar, M., Telljohann, R., Maudsley, S., Carlson, O., John, S., Laub, D.R.,Mattson, M.P., 2007. Alternate day calorie restriction improves clinical findingsand reduces markers of oxidative stress and inflammation in overweightadults with moderate asthma. Free Radic. Biol. Med. 42, 665–674.

Lipsey CC, Harbuzariu A, Daley-Brown D, Gonzalez-Perez RR. Oncogenic role of leptin and Notch interleukin-1 leptin crosstalk outcome in cancer. World J Methodol. 2016 Mar 26;6(1):43-55.

 

Longo, V.D., Mattson, M.P., 2014. Fasting: molecular mechanisms and clinicalapplications. Cell Metab. 19, 181–192.

Longo, V.D., Panda, S., 2016. Fasting, circadian rhythms, and time-restrictedfeeding in healthy lifespan. Cell Metab. 23, 1048–1059.

Diana Matías-Pérez 1Emilio Hernández-Bautista 2Iván Antonio García-Montalvo. Intermittent fasting may optimize intestinal microbiota, adipocyte status and metabolic health. Asia Pac J Clin Nutr 2022 Mar;31(1):16-23

 

Mattson MP, Longo VD, Harvie M. Impact of intermittent fasting on health and disease processes. Ageing Res Rev. 2017 Oct;39:46-58.

Mattson MPMoehl KGhena NSchmaedick MCheng A. Intermittent metabolic switching, neuroplasticity and brain health. Nat Rev Neurosci. 2018 Feb;19(2):63-80.

McCarty MF, DiNicolantonio JJ, O’Keefe JH. Ketosis may promote brain macroautophagy by activating Sirt1 and hypoxia-inducible factor-1. Med Hypotheses. 2015 Nov;85(5):631-9.

Renehan, A.G., Tyson, M., Egger, M., Heller, R.F., Zwahlen, M., 2008. Body-massindex and incidence of cancer: a systematic review and meta-analysis ofprospective observational studies. Lancet 371, 569–578.

Safdie, F.M., Dorff, T., Quinn, D., Fontana, L., Wei, M., Lee, C., Cohen, P., Longo, V.D.,2009. Fasting and cancer treatment in humans: a case series report. Aging(Albany NY). 1, 988–1007.

Wan, R., Ahmet, I., Brown, M., Cheng, A., Kamimura, N., Talan, M., Mattson, M.P.,2010. Cardioprotective effect of intermittent fasting is associated with anelevation of adiponectin levels in rats. J. Nutr. Biochem. 21, 413–417.

Wei, T., Ye, P., Peng, X., Wu, L.L., Yu, G.Y., 2016. Circulating adiponectin levels invarious malignancies: an updated meta-analysis of 107 studies. Oncotarget.

 

SEGREDOS DOS POVOS MAIS LONGEVOS DO MUNDO

Apesar da enorme diversidade cultural, há no mundo regiões privilegiadas onde as pessoas vivem vidas significativamente mais longas e saudáveis. São as famosas “blue zones” ou “zonas azuis”, espalhadas pelo planeta, do Oriente ao Ocidente, cujos “segredos” vêm sendo pouco a pouco revelados pela ciência médica.

 

Conheça os cinco povos mais longevos e saudáveis do mundo

O termo “Blue Zones” ou “Zonas Azuis” foi cunhado por Dan Buettner, bolsista da National Geographic e autor de best-sellers do New York Times, um deles intitulado “Blue Zones”, cuja primeira edição foi lançada em 2008. Desde então, o assunto começou a ganhar grande popularidade internacionalmente. As cinco regiões mapeadas e mais conhecidas no momento são Okinawa (Japão), Península de Nicoya (Costa Rica), Icaria (Grécia), Ogliastra (Sardenha, Itália) e Loma Linda (Califórnia, EUA) [1-2].

Esta última é uma das mais estudadas, até porque lá existe uma Faculdade de Medicina e um reconhecido Centro de Pesquisa, que há anos vem publicando sobre a qualidade de vida de seus habitantes e seus baixos índices de doenças. Seus números de longevidade seus incríveis, muito acima de seus conterrâneos norte-americanos, atingindo não raro a marca dos 90 e 100 anos [3]. Não é incomum você encontrar um Lomalindense nonagenário ou até centenário frequentando academia, dirigindo seu automóvel e até cuidando de seu jardim. Embora haja diferenças culturais marcantes de região para região, as pesquisas identificaram vários pontos comuns no estilo de vida de todas as blue zones. Destacam-se também fatores ambientais que contribuem para a longevidade e saúde de seus residentes.

Mas há uma nota recente e lamentável nisso tudo: Novas gerações nas blue zones estão perdendo parte da cultura de seus antepassados saudáveis e longevos, aderindo aos hábitos ocidentais de alimentação, o que traz incertezas sobre o futuro.

 

Como explicar tanta saúde e vida tão longa?

Como afirma Dan Buettner, “não existem soluções mágicas para uma vida longa.” Os principais fatores destacados na equação cientificamente estudada para a longevidade e bem-estar, embora não deixe de fora a contribuição genética, inclui uma dieta predominantemente baseada em vegetais, baixa ingestão calórica, porém sem desnutrição, atividade física regular, religiosidade, fortes conexões sociais e um senso de propósito [1-2]. A ingestão calórica moderada vem sendo desde longa data associada à longevidade [4], e é talvez o vetor mais forte. Um fato inegável é que o homem moderno, a maioria de nós, come exageradamente, e por isso convivemos com uma pandemia de obesidade sem precedentes, com suas consequências deletérias.


Você é disciplinado para comer?

Se você está acima do peso adequado para seu biotipo e altura, provavelmente está comendo mais que gasta. Isso é importante, mas não é só o que conta. Os habitantes das blue zones notabilizam-se por sua disciplina alimentar como um todo, mantendo vários hábitos alimentares saudáveis, como ingerir mais vegetais, frutas e grãos (plant based diet), nunca sair da mesa “empanturrado” e jantar cedo. Os okinawenses (Japão) têm o costume dizer Hara hachi bun me (腹八分目/はらはちぶんめ), (ou hara hachi bu) antes das refeições, um ensino confucionista que os lembra de não comer mais que 80%. Na prática, significa sempre sair da mesa com “um pouco de fome”, mas não faminto.

 

Mas é possível viver como nas blue zones, ou seria apenas uma curiosidade inalcançável?

O que podemos aprender com as Zonas Azuis? É possível incorporar alguns dos seus costumes para aumentar nossa expectativa e qualidade de vida? Ou se trata de algo muito particular dessas regiões, privilégio genético, utópico para nós, inacessível à vida moderna? Estudos demonstraram que os referidos fatores de estilo de vida podem ser traduzidos em práticas perfeitamente adequáveis a vida moderna, para melhorar os resultados de saúde pública, que, diga-se de passagem, não são nada animadores. Por exemplo, o Projeto Zonas Azuis nos Estados Unidos implementou mudanças ambientais e políticas baseadas nestes princípios, resultando no aumento da esperança de vida e na redução das taxas de obesidade e doenças crónicas [1, 5]. Enfim, essas mudanças podem perfeitamente ser incorporadas à nossa rotina, pelo menos em parte, com alguma disciplina e foco.

 

“Blue zone brasileira”

Na Lapinha, oferecemos aos nossos hóspedes uma imersão que se assemelha em muitos aspectos ao modo de vida nessas regiões, pois contempla exatamente os três níveis de autocuidado que essas pessoas longevas têm: cuidado da alimentação, cuidado do corpo (atividade física e biorritmo) e cuidado da mente (incluindo saúde espiritual). Por isso, nossos clientes nos chamam carinhosamente de “blue zone brasileira”.  

 

Resumindo

A relação entre as Zonas Azuis, longevidade e alegria de viver pode ser explicada por uma combinação de fatores, com destaque a hábitos alimentares saudáveis, atividade física, engajamento social e fatores ambientais. Tudo isso resulta não apenas em vida longa, mas menos adoecimento. Diga-se de passagem, durante a pandemia de covid 19, os habitantes das blue zones estiveram em parte protegidos por seu “escudo” de ótima saúde [6, 7]. E podemos tirar daqui várias aplicações práticas.

 

 

  1. Blue Zones: Lessons From the World’s Longest Lived. Buettner D, Skemp S. American Journal of Lifestyle Medicine. 2016 Sep-Oct;10(5):318-321.
  2. A Narrative Review Exploring the Similarities Between Cilento and the Already Defined “Blue Zones” in Terms of Environment, Nutrition, and Lifestyle: Can Cilento Be Considered an Undefined “Blue Zone”?. Aliberti SM, Donato A, Funk RHW, Capunzo M. Nutrients. 2024;16(5):729. doi:10.3390/nu16050729.
  3. https://www.cnbc.com/2023/09/26/loma-linda-ca-what-the-only-blue-zone-in-the-us-does-for-longevity.html. Acesso em 26/06/2024.
  4. https://sitn.hms.harvard.edu/flash/2020/can-calorie-restriction-extend-your-lifespan/. Acesso em 26/06/2024.
  5. Micro Nudges: A Systems Approach to Health. Buettner D. American Journal of Health Promotion : AJHP. 2021;35(4):593-596. doi:10.1177/08901171211002328d
  6. Extremely reduced COVID-19 mortality in a “Blue Zone”: an observational cohort study. Christodoulos Stefanadis at al. Hellenic J Cardiol.2022 November-December; 68: 60–62. Published online 2022 Sep 22. 
  7. https://about.sharecare.com/blue-zones-project-inspires-resilient-responses-to-covid-19/ . Acesso em 26/06/2024

“DIETA DA PROTEÍNA” – EMAGRECE OU INFLAMA?

Dr Daniel S F Boarim – Diretor médico da Lapinha SPA

 

Uma dúvida recorrente: Entre os pesquisadores de nutrição, é ponto pacífico que o balanço das proteínas na dieta é essencial à manutenção ou ganho de massa muscular, mantendo o metabolismo e a composição corporal equilibrados. Também sabemos que dietas mais ricas em proteínas ajudam a promover a saciedade, podendo apoiar o emagrecimento. Porém – e aqui mora o paradoxo – estudos recentes apontam para um efeito inflamatório de dietas abundantes em proteínas, especialmente provenientes de fontes animais. Essas dietas tendem a desequilibrar a microbiota e criar um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças crônicas. E aí? Como conciliar isso?

 

PROTEÍNAS PODEM SER PRÓ-INFLAMATÓRIAS?

Estudos atuais vêm revelando que dietas ricas em proteínas, especialmente aquelas ricas em alimentos de fontes animais, podem exacerbar a inflamação, atrelada à disbiose (desequilíbrio da microbiota do intestino) e ao risco de doenças crônicas. Um desses estudos descobriu que uma dieta abundante em proteínas (perfazendo 30% de energia) aumentou os marcadores de inflamação em indivíduos obesos em comparação com uma dieta adequada em proteínas, com 15% do VET (valor energético total). [1] Da mesma forma, outros estudos demonstraram que dietas ricas em proteína animal podem promover respostas pró-inflamatórias de macrófagos, exacerbando a colite.[2]

 

TIPO DE PROTEÍNA

O tipo de proteína também desempenha um papel significativo. As proteínas animais, especialmente as provenientes da carne, têm sido associadas ao aumento de marcadores inflamatórios, enquanto as proteínas vegetais não parecem ter o mesmo efeito.[1][3]. Por exemplo, um estudo comparando diferentes fontes de proteína descobriu que a proteína do soro de leite teve uma resposta inflamatória pós-prandial menor em comparação com as proteínas do bacalhau e da caseína.[4]

 

DIETAS DE PROTEÍNA ALTERAM A MICROBIOTA?

 

Além disso, dietas ricas em proteínas a longo prazo podem alterar a microbiota intestinal, aumentar a permeabilidade intestinal e levar à inflamação sistêmica.[5] Isto é particularmente preocupante no contexto de dietas ricas em gordura, onde a combinação de alto teor de proteína e alto teor de gordura pode agravar ainda mais as respostas inflamatórias.[6-7]

 

PROTEÍNAS PROMOVEM A SACIEDADE?

Por outro lado, foi demonstrado que dietas ricas em proteínas promovem a saciedade e por tabela reduzem a ingestão calórica, o que pode ajudar no controle de peso. Isso se deve aos efeitos combinados de níveis elevados de aminoácidos plasmáticos, aumento das concentrações de hormônios anorexígenos e aumento da termogênese induzida pela dieta.[8-9] Além disso, dietas ricas em proteínas podem ajudar a preservar a massa livre de gordura durante a perda de peso, o que, no longo prazo, é crucial para manter o gasto energético basal.[10]

 

DIETAS PLANT BASED

A fonte e a qualidade da proteína também desempenham papéis significativos. Aqui, mais uma novidade que fala a favor da plant based diet e dieta DASH: Observou-se que a proteína do soro de leite e as proteínas vegetais exercem efeitos favoráveis ​​na composição corporal e nos parâmetros metabólicos, reduzindo potencialmente o risco de desenvolver obesidade.[11] Veja bem, proteínas vegetais! Demonstrou-se também que aminoácidos específicos, como aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), metionina e triptofano, influenciam positivamente os parâmetros relacionados à obesidade, embora a maioria das evidências venha de estudos em cobaias de laboratório.[12]

 

DIETA LOW CARB

Há uma hipótese, que acabou sendo distorcida a ponto de se tornar um modismo pernicioso, da assim chamada “alavancagem proteica”, que deu à luz as dietas “low carb”. Essa hipótese sugere que dietas pobres em proteínas podem aumentar a ingestão de energia total, incluindo carboidratos, e assim contribuindo para a obesidade. E, até certo ponto, há dados que a apoiam, mostrando que uma maior ingestão de proteínas está associada a uma menor ingestão total de energia, independentemente do teor de carboidratos ou gordura da dieta. [4-5]. Porém, isso está longe de abonar um plano alimentar exagerado em proteínas animais ou “livre” de carboidratos. É preciso lembrar que os carboidratos “do bem” vêm sendo confundidos com os “do mal”, levando à demonização de frutas, raízes e cereais integrais, certamente um desatino que não conta com qualquer respaldo científico.

 

RESUMO

Resumindo, as dietas adequadas em proteínas, podendo atingir proporções leve e calculadamente maiores, sem excluir os carboidratos saudáveis, podem ser benéficas para o controle do peso, promovendo a saciedade, preservando a massa magra e reduzindo potencialmente a ingestão global de energia. No entanto, os efeitos no longo prazo e as fontes proteicas devem ser considerados, pois proteína demais, especialmente as de fonte animal, apresenta efeitos inflamatórios, favorecendo o aparecimento de males crônicos. O tipo e a quantidade de proteína devem ser cuidadosamente levados em conta para mitigar essas reações indesejáveis. A solução desse aparente paradoxo se traduz, como sempre, no equilíbrio e no bom-senso. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Nem proteína demais, nem de menos.

 

  1. Lopez-Legarrea P, de la Iglesia R, Abete I, et al. The Protein Type Within a Hypocaloric Diet Affects Obesity-Related Inflammation: The RESMENA Project.

Nutrition (Burbank, Los Angeles County, Calif.). 2014;30(4):424-9. doi:10.1016/j.nut.2013.09.009.

  1. Kostovcikova K, Coufal S, Galanova N, et al. Diet Rich in Animal Protein Promotes Pro-Inflammatory Macrophage Response and Exacerbates Colitis in Mice. Frontiers in Immunology. 2019;10:919. doi:10.3389/fimmu.2019.00919. Copyright License: CC BY

 

  1. Markova M, Koelman L, Hornemann S, et al. \Effects of Plant and Animal High Protein Diets on Immune-Inflammatory Biomarkers: A 6-Week Intervention Trial. Clinical Nutrition (Edinburgh, Scotland). 2020;39(3):862-869. doi:10.1016/j.clnu.2019.03.019.
  2. Holmer-Jensen J, Karhu T, Mortensen LS, et al. Differential Effects of Dietary Protein Sources on Postprandial Low-Grade Inflammation After a Single High Fat Meal in Obese Non-Diabetic Subjects. Nutrition Journal. 2011;10:115. doi:10.1186/1475-2891-10-115. Copyright License: CC BY

 

  1. Snelson M, Clarke RE, Nguyen TV, et al. Long Term High Protein Diet Feeding Alters the Microbiome and Increases Intestinal Permeability, Systemic Inflammation and Kidney Injury in Mice. Molecular Nutrition & Food Research. 2021;65(8):e2000851. doi:10.1002/mnfr.202000851.

 

  1. Zhang M, Song S, Zhao D, et al. High Intake of Chicken and Pork Proteins Aggravates High-Fat-Diet-Induced Inflammation and Disorder of Hippocampal Glutamatergic System. The Journal of Nutritional Biochemistry. 2020;85:108487. doi:10.1016/j.jnutbio.2020.108487.

 

  1. Hussain M, Umair Ijaz M, Ahmad MI, et al. Meat Proteins in a High-Fat Diet Have a Substantial Impact on Intestinal Barriers Through Mucus Layer and Tight Junction Protein Suppression in C57bl/6j Mice. Food & Function. 2019;10(10):6903-6914. doi:10.1039/c9fo01760g.

 

  1. 8. Drummen M, Tischmann L, Gatta-Cherifi B, Adam T, Westerterp-Plantenga M. Dietary Protein and Energy Balance in Relation to Obesity and Co-Morbidities. Frontiers in Endocrinology. 2018;9:443. doi:10.3389/fendo.2018.00443. Copyright License: CC BY

 

9 . Westerterp-Plantenga MS, Lemmens SG, Westerterp KR. Dietary Protein – Its Role in Satiety, Energetics, Weight Loss and Health. The British Journal of Nutrition. 2012;108 Suppl 2:S105-12. doi:10.1017/S0007114512002589.

 

  1. 10. Simonson M, Boirie Y, Guillet C. Protein, Amino Acids and Obesity Treatment. Reviews in Endocrine & Metabolic Disorders. 2020;21(3):341-353. doi:10.1007/s11154-020-09574-5. Copyright License: CC BY

 

  1. Gosby AK, Conigrave AD, Raubenheimer D, Simpson SJ.Protein Leverage and Energy Intake. Obesity Reviews : An Official Journal of the International Association for the Study of Obesity. 2014;15(3):183-91. doi:10.1111/obr.12131.

 

  1. Grech A, Sui Z, Rangan A, et al. Macronutrient (Im)balance Drives Energy Intake in an Obesogenic Food Environment: An Ecological Analysis. Obesity (Silver Spring, Md.). 2022;30(11):2156-2166. doi:10.1002/oby.23578.

 

“Protein diet” – Does it help you lose weight or cause inflammation?

Dr Daniel S F Boarim, MD, Medical Director of Lapinha SPA

A recurring question: Among nutrition researchers, it is common ground that a balance of proteins in the diet is essential for maintaining or gaining muscle mass, keeping metabolism and body composition balanced. We also know that diets richer in protein help promote satiety and can support weight loss. However – and herein lies the paradox – recent studies point to an inflammatory effect of diets rich in proteins, especially from animal sources. These diets tend to unbalance the microbiota and create an environment conducive to the development of chronic diseases. And there? How to reconcile this?

Current studies have revealed that diets rich in proteins, especially those rich in foods from animal sources, can exacerbate inflammation, linked to dysbiosis (imbalance of the intestinal microbiota) and the risk of chronic diseases. One such study found that a protein-rich diet (making up 30% of energy) increased markers of inflammation in obese individuals compared to a protein-adequate diet, making up 15% of TEV (total energy value). [1] Similarly, other studies have shown that diets high in animal protein can promote pro-inflammatory macrophage responses, exacerbating colitis.[2]

The type of protein also plays a significant role. Animal proteins, especially those from meat, have been linked to increased inflammatory markers, while plant proteins do not appear to have the same effect.[1][3]. For example, a study comparing different protein sources found that whey protein had a lower postprandial inflammatory response compared to cod and casein proteins.[4]

Additionally, long-term high-protein diets can alter the gut microbiota, increase intestinal permeability, and lead to systemic inflammation.[5] This is particularly concerning in the context of high-fat diets, where the combination of high protein and high fat can further aggravate inflammatory responses.[6-7]

On the other hand, high-protein diets have been shown to promote satiety and therefore reduce caloric intake, which can help with weight control. This is due to the combined effects of elevated plasma amino acid levels, increased concentrations of anorectic hormones, and increased diet-induced thermogenesis.[8-9] Additionally, high-protein diets may help preserve fat-free mass during weight loss, which, in the long term, is crucial to maintaining basal energy expenditure.[10]

The source and quality of the protein also play significant roles. Here, another news that speaks in favor of the plant-based diet and DASH diet: It has been observed that whey protein and vegetable proteins have favorable effects on body composition and metabolic parameters, potentially reducing the risk of developing obesity. [11] Look, plant-based proteins! Specific amino acids, such as branched-chain amino acids (BCAAs), methionine, and tryptophan, have also been shown to positively influence obesity-related parameters, although most evidence comes from studies in laboratory guinea pigs.[12]

There is a hypothesis, which ended up being distorted to the point of becoming a pernicious fad, of the so-called “protein leverage”, which gave birth to “low carb” diets. This hypothesis suggests that low-protein diets may increase total energy intake, including carbohydrates, and thus contribute to obesity. And to some extent, there is data to support this, showing that higher protein intake is associated with lower total energy intake, regardless of the carbohydrate or fat content of the diet. [4-5]. However, this is far from supporting a dietary plan excessive in animal proteins or “free” of carbohydrates. It is necessary to remember that “good” carbohydrates have been confused with “bad” ones, leading to the demonization of fruits, roots and whole grains, certainly an folly that does not have any scientific support.

In short, adequate protein diets, which can reach slightly and calculatedly higher proportions, without excluding healthy carbohydrates, can be beneficial for weight control, promoting satiety, preserving lean mass and potentially reducing overall energy intake. However, long-term effects and protein sources must be considered, as too much protein, especially from animal sources, has inflammatory effects, favoring the appearance of chronic illnesses. The type and amount of protein must be carefully taken into account to mitigate these undesirable reactions. The solution to this apparent paradox translates, as always, in balance and common sense. Not so much at sea and not so much on land. Not too much protein, not too little.

ALZHEIMER, PARKINSON, ENXAQUECA E SUA CONEXÃO COM O INTESTINO

Daniel S F Boarim, MD, Diretor clínico da Lapinha Clínica e Spa, Brasil

Acumulam-se evidências cada vez mais robustas de que a microbiota de nosso corpo, particularmente a microbiota intestinal, participa dinamicamente na regulação de processos fisiológicos, no metabolismo e na imunidade. E sua desregulação interfere consideravelmente na fisiopatologia de muitas entidades, destacando-se males neuro inflamatórios como Alzheimer e Parkinson.

 

A INFLAMAÇÃO CRÔNICA DE BAIXO GRAU

Quando adoecemos, o envolvimento da microbiota na fisiopatologia de diferentes enfermidades vem merecendo cada vez mais atenção (Fan Y, Pedersen O. 2021; Adak  A,   Khan MR, 2019; Vemuri, 2018). Há, porém, um lugar comum na base da cadeia de eventos crônico-degenerativos, que é a inflamação crônica de baixo grau (Tilg H et al, 2020). Isso na prática significa que certas bactérias e seus subprodutos metabólicos, ou endotoxinas, estão atravessando uma barreira intestinal fragilizada pela disbiose e gerando um estresse imunológico crônico, que se traduz por inflamação. Os estudiosos vêm denominando esse processo como síndrome do intestino permeável ou leaky gut. Fatores como estresse, alimentação pouco saudável, consumo excessivo de álcool, antibióticos e drogas podem comprometer a composição da microbiota intestinal e a homeostase da função de barreira intestinal do intestino, levando ao aumento da permeabilidade intestinal (Aleman R S el al 2023; Katayoun Khoshbin, 2020).

A assim chamada disbiose ou disrupção no equilíbrio da microbiota intestinal, patrocina uma cadeia de eventos pró-inflamatórios, silenciosos mas duradouros, a partir do intestino, com desdobramentos que alcançam o sistema nervoso.

 

GUT BRAIN AXIS (EIXO INTESTINO CÉREBRO)

A comunicação bidirecional entre o sistema nervoso central e o sistema nervoso entérico é de algum modo mediada por diversos microrganismos da microbiota e pelos sistemas neuroimune e neuroendócrino. E parece cada vez mais claro o papel da dieta, dos prebióticos, probióticos e pós bióticos, somados a outros aspectos do estilo de vida, como exercícios físicos, na remodelação do microbioma e redução da severidade dos sintomas nas doenças neurodegenerativas (Xiaoyan Liu at al, 2024).

Embora saibamos que há ainda muitos elos perdidos nessa cadeia de eventos, a tecnologia de sequenciamento de alta performance vem ajudando a desvendar essa interação metagenômica. Biomarcadores que podem ser associados a patógenos ajudam não apenas a esclarecer a fisiopatologia, mas a elucidar potenciais alvos terapêuticos (Xiaoyan Liu at al, 2024).

A existência de conexão funcional entre o intestino e o cérebro – o gut brain axis – parece clara, porém ainda pouco compreendida, remanescendo incertezas a respeito dos mecanismos de ação, que se revelam cada vez mais interdependentes e complexos (Tran N et al, 2019).

 

PARKINSON E ALZHEIMER

A base inflamatória ao lado do estresse oxidativo são geralmente aceitos como componentes da equação etiológica de fundo para males neurodegenativos como a doença de Parkinson (Vascellari et al, 2020).

O Aklzheimer também vem sendo associado à ação remota da microbiota alterada, e da mucosa intestinal inflamada, que respectivamente são capazes de liberar e translocar quantidades potencialmente nocivas de bactérias, lipopolissacárides e substância beta-amilóide.

As sinucleinopatias, ou superexpressão de alfa sinucleína, resultam em disfunção motora que se verifica no parkinsonismo (Kesika P  et al, 2021;  Nielsen S D et al., 2021). Quando se administram oralmente metabólitos microbianos específicos a camundongos livres de germes, promove-se neuroinflamação e sintomas motores, sugerindo-se fortemente a existência de uma via de sinalização entre o intestino e o cérebro capaz de modular a doença.

A propósito, outras neuropatologias  além do Parkinson, como o próprio Alzheimer  e e a doença de Creutzfeldt-Jakob, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo, vem sendo cada vez mais associadas à presença de deposições de amiloide-β, alfa sinucleína e proteína príon (Trichka J,  Zou W Q, 2021; González-Sanmiguel J et al, 2020).

 

ENXAQUECA (migrânea)

A migrânea também vem sendo citada em estudos do eixo intestino-cérebro, verificando-se que dietas de efeito benéfico sobre a microbiota parecem cursar com melhora do quadro. Tem sido verificado que a frequência de distúrbios gastrointestinais, incluindo-se disbiose, é maior em pacientes com enxaqueca em comparação com a população em geral. Entre as abordagens nutroterápicas mencionadas, potencialmente benéficas, incluem-se consumo adequado de fibra, menor índice glicêmico, suplementação com vitamina D, ômega-3 e probióticos, bem como planos alimentares para perda de peso no caso de sobrepeso e obesidade (Arzani et al, 2020).

Os mecanismos postulados envolvem a inflamação crônica e mediadores inflamatórios de origem intestinal, associados à disbiose e microbiota patobiôntica (Cámara-Lemarroy C R et al, 2016).

 

CONCLUSÃO

Enfim, acumulam-se evidências apontando a uma associação potencial entre a microbiota do hospedeiro e a neuroinflamação, que reúne diferentes patologias como Alzheimer, Parkinson e outras, seja diretamente devido à invasão cerebral por bactérias provenientes da barreira intestinal permeável e liberação de toxinas pró-inflamatórias, ou indiretamente através da modulação de mecanismos imunes (González-Sanmiguel J et al, 2020).

 

REFERÊNCIAS

Adak  A,   KhanMR, An insight into gut microbiota and its functionalities. Cell Mol Life Sci 2019 Feb;76(3):473-493.

Aleman R S, Marvin MoncadaKayanush J Aryana. Leaky Gut and the Ingredients That Help Treat It: A Review. Molecules, 2023 Jan 7;28(2):619.

Arzani et al. Gut-brain Axis and migraine headache: a comprehensive review. The Journal of Headache and Pain (2020) 21:15.

Cámara-Lemarroy C R et al. Gastrointestinal disorders associated with migraine: A comprehensive review. World J Gastroenterol 2016 September 28; 22(36): 8149-8160

Fan Y, Pedersen O. Gut microbiota in human metabolic health and disease. Nat Rev Microbiol 2021 Jan;19(1):55-71.

González-Sanmiguel J et al, Complex Interaction between Resident Microbiota and Misfolded Proteins: Role in Neuroinflammation and Neurodegeneration. Cells, 2020 Nov 13;9(11):2476.

Katayoun KhoshbinMichael Camilleri Effects of dietary components on intestinal permeability in health and disease Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol 2020 Nov 1;319(5):G589-G608.

Kesika P  et al. Role of gut-brain axis, gut microbial composition, and probiotic intervention in Alzheimer’s disease. Life Sci 2021 Jan 1;264:118627.

 

Nielsen S D et al. The link between the gut microbiota and Parkinson’s Disease: A systematic mechanism review with focus on α-synuclein transport. Brain Res 2021, Aug 6;147609.

 

Tilg H et al The intestinal microbiota fuelling metabolic inflammation.

Nat Rev Immunol. 2020 Jan;20(1):40-54.

Tran N et al. The gut-brain relationship: Investigating the effect of multispecies probiotics on anxiety in a randomized placebo-controlled trial of healthy young adults. J Affect Disord. 2019 Jun 1;252:271-277.

Trichka J,  Zou W Q Modulation of Neuroinflammation by the Gut Microbiota in Prion and Prion-Like Diseases. Pathogens, 2021 Jul 13;10(7):887.

 

Vascellari et al. Gut Microbiota and Metabolome Alterations Associated with Parkinson’s Disease. 2020 Sep 15;5(5):e00561-20.

 

Vemuri, R et al. Gut Microbial Changes, Interactions, and Their Implications on Human Lifecycle: An Ageing Perspective R. Biomed Res Int 2018 Feb 26;2018:4178607.

Xiaoyan Liu at al. Correlation between the gut microbiome and neurodegenerative diseases: a review of metagenomics evidence, Neural Regen Res, 2024 Apr;19(4):833-845

MEDICAMENTOS PARA EMAGRECER – OZEMPIC, MONJAURO E OUTROS

Dr Daniel S F Boarim MD – Diretor clínico

Conteúdo para médicos

Antes de começar essa review rápida e informal, quero lembrar com toda ênfase possível, aquilo que pressuponho  vocês já saibam, de que nenhum tratamento farmacológico é eficaz sem mudanças sustentáveis no estilo de vida. As medidas do estilo de vida estão SEMPRE na base da pirâmide. Depois vem a abordagem farmacológica, e finalmente as cirurgias bariátricas/metabólicas. 

Percebo que “Ozempic”, de tanto que vem sendo prescrito, algumas vezes, na minha opinião, inadequadamente, quase se tornou, popularmente, um “termo genérico” para medicamentos análogos do GLP-1, incluindo medicamentos como Wegovy, Mounjaro e Zepbound, que – vale apena lembrar – têm algumas distinções importantes.

De acordo com a regulamentação neste momento, Ozempic, embora todos indiquemos para emagrecer (off label), até recentemente não estava aprovado para perda de peso. Mas isso pode mudar a qualquer momento. Outra droga, o Mounjaro, também não. Esses dois são aprovados para diabetes. Embora ambos sejam bastante prescritos e usados OFF LABEL para a perda de peso. A maioria de nós prescreve, havendo aqui apenas um detalhe de regulação, que explico adiante.  

Já o Wegovy e Zepbound foram desenvolvidos com foco em obesidade ou sobrepeso, ou quando há sobreposta outra condição relacionada ao excesso de peso, como hipertensão, DSLP, diabetes, etc.

Sobre os efeitos colaterais de todas essas drogas, incluem-se principalmente distúrbios gastrointestinais, e por isso (opinião minha) acredito que possam, ao longo do tempo, afetar adversamente a microbiota pelos seus efeitos na motilidade. Certamente precisamos de mais estudos sobre isso, mas é inegável que obviamente o benefício do emagrecimento, quando se impõe, acabará em muitos casos compensando esse possível risco.

 

WEGOVY  X  OZEMPIC

Ambos fabricados pela Novo Nordisk. Vamos entender as diferenças.

O Wegovy foi aprovada no começo de 2023, pela Anvisa. O princípio ativo é a semaglutida, o mesmo do Ozempic. Porém, na regulamentação, o Ozempic é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, e usado off label (até essa data), como foi dito, para obesidade.

E qual é a diferença em relação ao Ozempic? Há pelo menos duas: (1) DOSAGEM. O Wegovy chega até 2,4mg na ‘canetinha’, enquanto o Ozempic a dosagem máxima é 1 mg. Ambos são aplicados semanalmente. O Ozempic foi aprovado pelo FDA para diabetes tipo 2 em doses de 0,5 mg e 1 mg em 2017, e numa dose de 2 mg em 2022.

O FDA aprovou Wegovy em doses injetáveis maiores – de 2,4 mg uma vez por semana em 2022.

(2) As ferramentas de administração são um pouco diferentes. A injeção de Wegovy é administrada através de uma caneta descartável de uso único. Já as canetas do Ozempic permitem vários usos. 

Originalmentre, o Wegovy foi aprovado para um IMC de 30 ou mais, e IMC de 27 ou mais (sobrepeso) desde que haja uma condição relacionada ao peso, como hipertensão ou diabetes.

Mas na prática tem um monte de gente tomando por conta própria, até na faixa normal de peso, e muitos colegas receitando “a rodo”. Um modismo e imediatismo. Como disse acima, nada, nada mesmo, substitui a mudança de comportamento, e esses medicamentos vieram também para apoiar essa mudança, pois ajudam o compulsivo, o beliscador, o glutão e o desregrado a comerem menos e a reordenarem seus hábitos. Mas não para serem usados indiscriminadamente, e pior ainda, sem orientação médica.

Voltando ao famoso Wegovy, li uma pesquisa que durou 68 semanas envolvendo quase 2.000 pessoas que tomaram a dose de 2,4 mg de Wegovy e que perderam cerca de 15% do peso corporal. Resultado muito bom!

Já esses benefícios sugeridos podem ser aplicados ao Ozempic também, mesmo que numa proporção menor, pela limitação de dose a 1 mg? Decerto sim, mas tem a questão de regulação legal.

Em contrapartida – e isso é importante para nós – outro ensaio publicado em 2022 sugeriu que as pessoas que pararam de usar semaglutida nas doses de 2,4 mg do Wegovy, recuperaram dois terços do peso perdido em um ano (dois terços do peso!). Veja bem, se não houver mudança de comportamento para valer, O PESO VOLTA MESMO COM A MELHOR DAS DROGAS!

Outro paper interessante é de um estudo divulgado pela Novo Nordisk, duplo-cego, sobre resultados cardiovasculares, denominado SELECT, que foi encomendado em agosto de 2023 (considere-se o conflito de interesses). Incluiu mais de 17.000 adultos com 45 anos ou mais, com sobrepeso ou obesidade, e tinham doença cardiovascular estabelecida, mas sem histórico de diabetes. Os resultados foram muito divulgados no mundo inteiro através de congressos e publicações, e mostraram uma redução significativa do risco de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) por até cinco anos. Outros estudos anteriores já haviam sugerido benefícios cardiovasculares relacionados às incretinas, de modo que há dezenas de papers apontando nessa direção.

 

MOUNJAURO X ZEPBOUND (Tirzepatide)

O Mounjaro e o Zepbound são fabricados pela Eli Lily. Bem parecido com o que acontece com o Ozempic e o Wegovy da Novo Nordisk, o Mounjauro foi aprovado para diabetes tipo 2 em 2022, e o Zepbound para a perda de peso em 8 de novembro de 2023.

E semelhantemente ao Wegovy, os indivíduos que se qualificam para fazer o Zepbound devem atender aos seguintes critérios: Um índice de massa corporal (IMC) de 30 ou maior (obesidade), e IMC de 27 ou mais (sobrepeso) mais uma condição relacionada ao peso, como dislipidemia, diabetes, HAS.

Porém, ao contrário de Ozempic e Wegovy, essencialmente não há diferença entre Mounjaro e Zepbound além do nome comercial.

Mas os princípios ativos semaglutida e tirzepatida não são a mesma coisa.

A tirzepatida age num receptor do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) e também como agonista do receptor GLP-1. Um efeito dual. E ambos são hormônios da saciedade produzidos naturalmente pelo intestino, da classe das incretinas, mas aqui alterados molecularmente para uma vida últil bem mais longa, mantendo uma ação prolongada de vários dias. Por isso a posologia semanal, bem confortável.

Em todos os casos, potencializa-se a sensação de saciedade e ocorre retardo no esvaziamento gástrico, o que diminui a ingesta total de comida na refeição, ajudando no controle das porções. Mas, podendo gerar os efeitos colaterais de que falamos, principalmente náusea. E quanto mais intenso esse desconforto a predição de efeito positivo talvez seja maior. Por mais lógica que pareça essa associação, afirmar isso pede mais estudos. Por outro lado, essa colateralidade é muito desagradável e acaba sendo um limitante em alguns casos, pedindo associação de drogas anti-eméticas como o ondansetrona, ou em casos mais severos, até a suspensão da droga.

A Eli Lily encomendou duas pesquisas, a SURMOUNT-3 e SURMOUNT-4, que indicaram perda de peso de 26,6% num período de 84 semanas (0,317/semana), o que é mais do que os 15% que as pessoas perderam usando Wegovy em um período mais curto de 68 semanas (0,22/semana). Existe também a possibilidade de se tomar uma dose semanal mais elevada.

O Mounjaro é administrado de modo semelhante às outras drogas, através de injeção subcutânea, uma vez por semana, por meio de uma caneta injetora descartável de uso único. A dose inicial é de 2,5 mg, aumentando em 2,5 mg a cada quatro semanas até atingir a dose final de 15 mg, ou a dose máxima tolerada.

Há ensaios que apontam à tirzepatida como a “melhor tolerada”. Mas é preciso levar em conta a ferrenha disputa entre as marcas. São necessários estudos adicionais para afirmarmos isso.

Imaginem só, uma perda de peso mais significativa e o potencial para menos efeitos colaterais, podem fazer com que a tirzepatida se torne em pouco tempo a melhor opção! Mas, reforço, ainda é cedo para se dizer algo assim em base conclusiva.

Por fim, estamos apenas começando nosso aprendizado sobre esses medicamentos, e o tempo é o melhor juiz, como já aconteceu com muitas drogas, que ao serem lançadas, eram a coqueluche do momento, mas anos depois, chegaram a ser proibidas por efeitos não observados nos ensaios iniciais.

 

VALE SEMPRE REFORÇAR QUE…

Tanto para a semaglutida como a tirzepatida os ensaios tiveram o bom senso de afirmar que os  benefícios da perda de peso ocorreram em conjunto com outras mudanças no estilo de vida, como dieta e exercício.

 

Referências

Kraftson,  Griauzde, What Should I Know About Injectable Weight-Loss Medications? JAMA Internal Medicine Patient Page, March 11, 2024.

Garvey W Timothy, Tirzepatide once weekly for the treatment of obesity in people with type 2 diabetes (SURMOUNT-2): a double-blind, randomised, multicentre, placebo-controlled, phase 3 trial. Lancet, 2023 Aug 19;402(10402):613-626.

Wadden Thomas A  , Tirzepatide after intensive lifestyle intervention in adults with overweight or obesity: the SURMOUNT-3 phase 3 trial, Nat Med 2023 Nov;29(11):2909-2918.

 

 

ENGLISH

Lapinha medical knowledge – for doctors 05/28/2024

WEIGHT LOSS MEDICINES – OZEMPIC, WEGOVY AND OTHERS

Dr Daniel S F Boarim, MD – Clinical Director

Content for doctors

Before starting this quick and informal review, I want to remind you, as emphatically as possible, of what I assume you already know, which is that no pharmacological treatment is effective without sustainable changes in your lifestyle. Lifestyle measurements are ALWAYS at the base of the pyramid. Then comes the pharmacological approach, and finally bariatric/metabolic surgeries. 

I realize that “Ozempic”, as it has been prescribed so much, sometimes, in my opinion, inappropriately, has almost become, popularly, a “generic term” for GLP-1 analogue medicines, including Wegovy, Mounjaro and Zepbound, which – let it be said with emphasis – have some important distinctions.

According to the regulations at the moment (in Brazil), Ozempic, although we all recommend it for weight loss (off label), until recently was not approved for weight loss. But this could change at any time. Neither does another drug, Mounjaro. These two are approved for diabetes. Although both are widely prescribed and used OFF LABEL for weight loss. Most of us prescribe, there being only one regulatory detail here, which I explain below. 

Wegovy and Zepbound were developed with a focus on obesity or overweight, or when there is another condition related to excess weight, such as hypertension, DSLP, diabetes, etc.

The side effects of all these drugs mainly include gastrointestinal disorders, and therefore (my opinion) I believe that they can, over time, adversely affect the microbiota due to their effects on motility. We certainly need more studies on this, but it is undeniable that the benefit of weight loss, when necessary, will in many cases end up offsetting this possible risk.

 

WEGOVY

Both manufactured by Novo Nordisk. Let’s understand the differences.

Wegovy was approved at the beginning of 2023, by Anvisa. The active ingredient is semaglutide, the same as Ozempic. However, in regulations, Ozempic is indicated for the treatment of type 2 diabetes, and used off-label (until this date), as mentioned, for obesity.

And what is the difference compared to Ozempic? There are at least two: (1) DOSAGE. Wegovy reaches up to 2.4 mg in the ‘pen’, while Ozempic the maximum dosage is 1 mg. Both are applied weekly. Ozempic was approved by the FDA for type 2 diabetes in doses of 0.5 mg and 1 mg in 2017, and in a dose of 2 mg in 2022.

The FDA approved Wegovy in higher injectable doses – 2.4 mg once weekly in 2022.

(2) The administration tools are a little different. Wegovy injection is administered via a single-use disposable pen. Ozempic pens allow for multiple uses. 

Originally, Wegovy was approved for a BMI of 30 or more, and a BMI of 27 or more (overweight) as long as there is a weight-related condition such as hypertension or diabetes.

But in practice, there are a lot of people taking it on their own, even in the normal weight range, and many colleagues prescribing it “by accident”. A fad and immediacy. As I said above, nothing, absolutely nothing, replaces a change in behavior, and these medications also came to support this change, as they help the compulsive, the picky, the gluttonous and the unruly to eat less and reorganize their habits. But not to be used indiscriminately, and even worse, without medical advice.

Returning to the famous Wegovy, I read a research that lasted 68 weeks involving almost 2,000 people who took the 2.4 mg dose of Wegovy and lost around 15% of their body weight. Very good result!

Can these suggested benefits be applied to Ozempic as well, even if to a lesser extent, due to the dose limitation of 1 mg? Of course yes, but there is the issue of legal regulation.

In contrast – and this is important to us – another trial published in 2022 suggested that people who stopped using semaglutide at Wegovy’s 2.4 mg doses gained back two-thirds of the weight lost in a year (two-thirds of the weight!) . You see, if there is no real change in behavior, THE WEIGHT COMES BACK EVEN WITH THE BEST OF DRUGS!

Another interesting paper is from a double-blind study released by Novo Nordisk on cardiovascular outcomes, called SELECT, which was commissioned in August 2023 (consider the conflict of interest). It included more than 17,000 adults aged 45 and over who were overweight or obese and had established cardiovascular disease but no history of diabetes. The results were widely publicized throughout the world through congresses and publications, and showed a significant reduction in the risk of major adverse cardiovascular events (MACE) for up to five years. Other previous studies had already suggested cardiovascular benefits related to incretins, so there are dozens of papers pointing in this direction.

 

MOUNJAURO X ZEPBOUND (Tirzepatide)

Mounjaro and Zepbound are manufactured by Eli Lily. Much like Novo Nordisk’s Ozempic and Wegovy, Mounjauro was approved for type 2 diabetes in 2022, and Zepbound for weight loss on November 8, 2023.

And similar to Wegovy, individuals qualifying to take Zepbound must meet the following criteria: A body mass index (BMI) of 30 or greater (obesity), and BMI of 27 or greater (overweight) plus a weight-related condition , such as dyslipidemia, diabetes, hypertension.

However, unlike Ozempic and Wegovy, there is essentially no difference between Mounjaro and Zepbound other than the trade name.

But the active ingredients semaglutide and tirzepatide are not the same thing.

Tirzepatide acts on a glucose-dependent insulinotropic polypeptide (GIP) receptor and also as a GLP-1 receptor agonist. A dual effect. And both are satiety hormones naturally produced by the intestine, from the incretin class, but here molecularly altered for a much longer lifespan, maintaining a prolonged action of several days. That’s why the weekly dosage is very comfortable.

In all cases, the feeling of satiety increases and there is a delay in gastric emptying, which reduces the total food intake during the meal, helping with portion control. But, it can generate the side effects we talked about, mainly nausea. And the more intense this discomfort, the prediction of a positive effect may be greater. As logical as this association may seem, stating this requires further studies. On the other hand, this collaterality is very unpleasant and ends up being limiting in some cases, requiring a combination of anti-emetic drugs such as ondansetron, or in more severe cases, even discontinuation of the drug.

Eli Lily commissioned two surveys, SURMOUNT-3 and SURMOUNT-4, which indicated 26.6% weight loss over an 84-week period (0.317/week), which is more than the 15% people lost using Wegovy over a shorter period of 68 weeks (0.22/week). There is also the possibility of taking a higher weekly dose.

Mounjaro is administered in a similar way to other drugs, through subcutaneous injection, once a week, using a single-use disposable injector pen. The initial dose is 2.5 mg, increasing by 2.5 mg every four weeks until reaching the final dose of 15 mg, or the maximum tolerated dose.

There are trials that point to tirzepatide as the “best tolerated”. But it is necessary to take into account the fierce dispute between brands. Additional studies are needed to confirm this.

Just imagine, more significant weight loss and the potential for fewer side effects could make tirzepatide the best option in no time! But, I emphasize, it is still too early to say something like that on a conclusive basis.

Finally, we are just beginning to learn about these medications, and time is the best judge, as has happened with many drugs, which when launched, were the buzzword of the moment, but years later, were banned due to unobserved effects. in initial trials.

 

IT IS ALWAYS WORTH REINFORCEMENT THAT…

For both semaglutide and tirzepatide the trials had the good sense to state that the weight loss benefits occurred in conjunction with other lifestyle changes such as diet and exercise.

 

References

Kraftson, Griauzde, What Should I Know About Injectable Weight-Loss Medications? JAMA Internal Medicine Patient Page, March 11, 2024.

Garvey W Timothy, Tirzepatide once weekly for the treatment of obesity in people with type 2 diabetes (SURMOUNT-2): a double-blind, randomized, multicenter, placebo-controlled, phase 3 trial. Lancet, 2023 Aug 19;402(10402):613-626.

Wadden Thomas A, Tirzepatide after intensive lifestyle intervention in adults with overweight or obesity: the SURMOUNT-3 phase 3 trial, Nat Med 2023 Nov;29(11):2909-2918.

Receba nosso conteúdo

Tenha acesso em primeira mão às nossas novidades e programações especiais

A Lapinha se compromete em proteger e respeitar sua privacidade. Usaremos suas informações pessoais apenas para administrar sua conta e fornecer os produtos e serviços que você nos solicitou. Ocasionalmente, gostaríamos de entrar em contato sobre nossas ofertas, bem como sobre outros conteúdos que possam ser de seu interesse. Você pode optar por desinscrever-se de nosso mailing a qualquer momento.

Lar Lapeano de Saúde LTDA - CNPJ 75.189.597/0001-63. Todos os direitos reservados.